segunda-feira, 28 de março de 2016

HOJE



Hoje,

Voam as aves, os sonhos
Minha tristeza e saudade
E os pesadelos medonhos
Do que foi a mocidade

Os anos também voaram
E neste dia tão frio
Eu sinto em mim um vazio
Das lembranças que ficaram

Proibida de te amar
De te falar de te ver
De sentir e de chorar
E até de te escrever

Sabia que lá no fundo
Eu tinha que te ir ver
Às escondidas do mundo
P'ra nunca ninguém saber

Mas hoje eu posso dizer
Se calhar até gritar
Que todo o meu sofrer
Foi por tanto te amar

Só estou arrependida
De não lutar por ti também
É que toda a minha vida
Sempre te amei querida mãe

Faz hoje anos que partiste
Sem um ai sem um adeus
Não mais vi os olhos teus
Nem de mim te despediste

Mas hoje eu te vou pedir
Só não digas a ninguém
Quando eu estiver a dormir
P'ra deixares no meu sentir
Os beijos que não me deste, mãe.


sexta-feira, 18 de março de 2016

TENHO FLORES NO MEU REGAÇO


Tenho flores no meu regaço
Num degradê multicor
Sem algumas eu não passo
Preciso do seu odor

Tenho cravos, tenho rosas
De afiados espinhos
Papoilas lindas formosas
Que me turvam o caminho

Tenho pétalas d'amargura
Mas estão tão descoradas
Que quando sentem ternura
Ficam mais amarguradas

Tenho uma rosa amarela
Quando o cravo vê passar
Ainda se põe à janela
Do sentir a namorar

Tenho um lírio encantador
E uma cravina vaidosa
Que tanto me dão amor
Mimos sorrisos e prosa

Tenho flores no meu regaço
Que quero distribuir
A quem me deixou abraço
Apertadinho num laço
E levou o meu sentir.


terça-feira, 8 de março de 2016

ALMA DE MULHER




  Queria sentir-me mulher
P'ra atenuar minha dor
E não uma coisa qualquer
Que vive sem ter amor

Queria sentir-me rainha
Dum palácio de cetim
E forrar a alma minha
Com as rosas do teu jardim

Queria ser tua princesa
Do teu castelo dourado
Sem coroa nem realeza
E tu, meu príncipe encantado

Matar a saudade quando
Ela entrasse no sentir
Não ter a alma chorando
Em vez de a ter a sorrir

Poder voar como um gaio
No meio da Primavera
Ser uma rosa de Maio
No teu jardim de quimera

Queria sentir-te na calma
Da noite ou dum dia qualquer
Não ser uma mulher com alma
Mas ter alma de mulher.