terça-feira, 30 de agosto de 2011

DESISTO





Desisto de entender
Porque entre tantos mortais
Só me fizeram sofrer
E me calaram os ais

Desisto porque os olhos meus
Não mais lavam as lembranças
E de perguntar a um Deus
Porque sofrem as crianças

Desisto porque eu agora
Sem primavera da vida
Não consigo ver na aurora
A esperança prometida

De saber e de falar
Há muito eu desisti
Saudades do verbo amar
Que só me lembram de ti

Desisto sim meu amor
Porque eu sei que à partida
Sou labirinto de dor
Com entrada e sem saída

Desisto até de te amar
Porque o meu coração
Está pronto a amarrar
O amor à solidão.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

DESLIZO SUAVEMENTE


Deslizo suavemente
A mão pelo meu corpinho
Fico rubra em desalinho
Com uma mordida tão quente

Olho p'ra baixo e vejo
Aquele intruso porém
Sinto que o meu desejo
É eu morder-lhe também

Descarado ele então
Como se eu não estivesse a ver
Suga, lambe e vai morder
Sem minha autorização

Vejo-o ansioso, perdido
Fico a pensar na maneira
De ajudar na brincadeira
Daquele grande atrevido

Apanhei-o de chapão
Com malícia p'ra valer
E até senti prazer
De o ter ali na mão

Venci assim esta briga
De ser tão assediada
É que o mosquito duma figa
Foi morder-me na barriga
Que até me deixou marcada.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

INDOMÁVEL



Indomável é o sonho
Em noite de céu estrelado
E o pesadelo medonho
Na lembrança do passado

É a luz que faz questão
De continuar a brilhar
Que ilumina a solidão
Mesmo que esteja a chorar

Indomável é a morte
Que ao carregar tanto frio
Deixa escrito em sorte
Um abraço num vazio

E até a velha hera
Sempre ao sol e ao vento
Teima em dar um rebento
P'ra enfeitar a Primavera

Indomáveis somos nós
Pois seja noite ou dia
Não queremos estar sós 
E ás vezes nem companhia

Indomável o meu ser
Quando sente o teu ardor
Deixa meu sentir a arder
Em labaredas de amor.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

PERSIGO



Persigo o meu sol ausente
Na esperança de encontrar
A luz que eu olhe de frente
Sem que me fira o olhar

Persigo com ousadia
Aquilo que nunca pensei
Que eu perseguisse um dia
Pois nunca o procurei

Persigo a velha saudade
À distancia p'ra não ver
As mágoas da mocidade
Que me fizeram sofrer

Persigo a dor meu espinho
Para me certificar
Que encontrou um caminho
E que não vai mais voltar

Persigo o sonho a loucura
A saudade num adeus
E corro atrás da ternura
Que me diz os lábios teus

Persigo o que me conduz
Aos teus braços com ardor
A alma que me seduz
Que me mostrou essa luz
Nos teus olhos meu amor.