Não há ruas nem vielas
Que não viessem espreitar
Tantos senhores ás janelas
Do poder, a engordar
Não há sonhos ilusões
Nem bocas para lamentos
Mas há quem ás prestações
Vá comprar medicamentos
Não há pão p'ra toda a gente
Nem dinheiro p'ró ordenado
Mas há chão que deu semente
Sem sequer ser semeado
Não há estrelas cadentes
Porque elas foram roubadas
P'rós bolsos de tantas gentes
Em fortunas transformadas
Não há trabalho p'ra dar
Nem verbas para dividir
Mas há armas p'ra matar
E bombas para destruir
Não há sol para aquecer
Tanta barriga a esfriar
Que precisa de comer
E tem contas por pagar
Cortaram no reformado
E na mesada do puto
No pobre do ordenado
Que nem dá para conduto
Tantos cortes afinal
Com proveito e aldrabice
Fundem, cemitério nacional
Que é p'ra se cortar o mal
Pela raiz da velhice.